segunda-feira, 23 de julho de 2012

Agradecida? ...não! Resignada? ...talvez!

Passou-se um mês. Um mês de muita tormenta e lamuria. Um mês em que muitas questões deambularam, pertinentes, pela minha mente. A resposta permaneceu sempre na revolta, na angústia, na raiva. Andei zangada, muito zangada, sem forças, nessa que foi mais uma luta. Uma luta contra uma pneumonia, em luta com sentimentos adversos, em luta com questões pertinentes. Quando se defende que, nós sobreviventes de cancro, devemos estar agradecidos, eternamente agradecidos, agradecidos por estarmos vivos. Eu questiono, questiono e pergunto a quem e porque que razão devo agradecer por ter sido envenenada com a milagrosa quimioterapia, por me ter sido cortado um peito e terem sido tirados 18 gânglios que me deixaram com um braço que para pouco me serve, por ter sido queimada durante 25 sessões de radioterapia, por ter que tomar um comprimido durante 5 anos que me pode provocar cancro nos ovários. Também me devo sentir agradecida pelas dores que senti nos ossos? pela falta de mobilidade no braço? pelo cabelo que caiu? pelo cansaço descomunal? pelos afrontamentos que me tiram o sono? pela falta de qualidade de vida? pela falta de conforto? por estar desempregada? Já não estou zangada nem revoltada, estou lúcida e resignada. Estou curada da pneumonia e começo a sentir algum do conforto que me tem vindo fugir deste que começou este fandango.
Mas agradecida? Por estar viva? Não! A vida é um direito, um direito que me é devido, pelo qual eu tenho que lutar, todos os dias. 
Resignada? ...talvez. Agradecida? ...não.