segunda-feira, 18 de março de 2013

Uma "outra" Primavera!


Eu tinha um plano! Um plano para te receber, doce Primavera, de braços abertos e com um rasgado sorriso, corria na tua tão ansiada direcção, de mãos dadas com a vida, de pazes feitas com o corpo, feliz e confiante! Mas tu repostas! Repostas com o teu outro aroma! Aquele que me invadiu a alma, naquele outro Outubro!  Acredito que é só o aroma. Um aroma  que se vai dissipar ao sabor da brisa da manhã. Acredito numa outra Primavera, que renascerá, triunfante.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O que é verdadeiramente importante?


Foi durante o mês de Setembro, do passado ano, que com uma rotineira ida ao médico, começou este fandango. Tentei, a bem ou a mal, partilhar aqui um bocadinho, o testemunho na primeira pessoa do que realmente significa ter cancro. Muito foi dito e tudo mais ficou por registar. O primeiro baque, ter que contar à família, aos amigos. O turbilhão de sentimentos, medo, angustia, revolta, raiva, força, esperança, coragem, fé. Tudo à mistura, um verdadeiro cocktail. O tratamento que se revelou a doença nos efeitos secundários, mas a cura na sua verdadeira essência. Acreditar sempre com muita coragem e com o apoio incondicional da minha família e dos meus amigos foi sem dúvida as minhas aliadas e poderosas armas nesta fatídica luta. Passei por grandes momentos de depreciação, sobretudo na consciência que existia uma vida paralela à minha. A minha estava ali, estanque, naquele campo murado pela enfermidade. A outra, a do lado de fora dos meus muros, seguia o seu caminho, acontecia, jovial. Enquanto ali permaneci tive um porquê por companhia. Hoje, sinto que estou próximo, muito próximo de o descobrir. O porquê. Aquele porquê que durante este tempo todo me acompanhou no pensamento, de mansinho. A resposta, vou descobri-la no que é verdadeiramente importante.  No que é verdadeiro. 

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Agradecida? ...não! Resignada? ...talvez!

Passou-se um mês. Um mês de muita tormenta e lamuria. Um mês em que muitas questões deambularam, pertinentes, pela minha mente. A resposta permaneceu sempre na revolta, na angústia, na raiva. Andei zangada, muito zangada, sem forças, nessa que foi mais uma luta. Uma luta contra uma pneumonia, em luta com sentimentos adversos, em luta com questões pertinentes. Quando se defende que, nós sobreviventes de cancro, devemos estar agradecidos, eternamente agradecidos, agradecidos por estarmos vivos. Eu questiono, questiono e pergunto a quem e porque que razão devo agradecer por ter sido envenenada com a milagrosa quimioterapia, por me ter sido cortado um peito e terem sido tirados 18 gânglios que me deixaram com um braço que para pouco me serve, por ter sido queimada durante 25 sessões de radioterapia, por ter que tomar um comprimido durante 5 anos que me pode provocar cancro nos ovários. Também me devo sentir agradecida pelas dores que senti nos ossos? pela falta de mobilidade no braço? pelo cabelo que caiu? pelo cansaço descomunal? pelos afrontamentos que me tiram o sono? pela falta de qualidade de vida? pela falta de conforto? por estar desempregada? Já não estou zangada nem revoltada, estou lúcida e resignada. Estou curada da pneumonia e começo a sentir algum do conforto que me tem vindo fugir deste que começou este fandango.
Mas agradecida? Por estar viva? Não! A vida é um direito, um direito que me é devido, pelo qual eu tenho que lutar, todos os dias. 
Resignada? ...talvez. Agradecida? ...não.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Cansada e Doente! Doente e Cansada!


Hoje não é um bom dia para escrever. Hoje é um dia em que me apetecia, literalmente, virar tudo do avesso. Subir à mais alta das montanhas e libertar o grito que me sufoca, a angústia que me atormenta a alma. Mas não posso, não consigo, não tenho forças. Estou cansada! Estou doente! Estou doente e cansada e cansada de de estar cansada e doente. Essa traiçoeira (doença), que teima em se manter por perto, deu-me o indesejado e bem apertado abraço. Tirou-me o tão ansiado mergulho no mar, as braçadas na piscina, o sabor de uma cerveja fresquinha numa alegre esplanada. Tirou-me o conforto e a qualidade de vida. Atirou-me para o sofá e por aqui permaneço, à espera. Eu e esta malvada pneumonia. Sinto-a no ar que respiro, sinto-lhe o palato. Sinto-a a dominar a minha vida e eu nada posso fazer. Prostrada, resta-me dar-lhe descanso e esperar, esperar docemente, esperar pelo dia em que possa finalmente vir aqui cantar vitórias. Estou cansada! Definitivamente, hoje não é um bom dia para escrever! Nem para escrever nem para mais nada!

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Superando desafios

Esta foto foi gentilmente cedida pelo seu autor. Evandro Franco
http://evandrofranco-photography.blogspot.com.br/

Neste campo de batalha, para o qual fui atirada sem direito a questionar, tenho vindo a derrubar muralhas e a construir pontes. Derrubei o medo, a tristeza, a incerteza e a dúvida. Conquistei a coragem, a força, a alegria e a esperança. Aprendi a viver um dia de cada vez, a superar os desafios, que diariamente me foram colocados no caminho. Os pequeninos e os grandes. O meu maior e mais doloroso desafio foi a recuperação da mastectomia. O braço embaraçou, os músculos ou no que restou deles, padeceram de dores brutais, que se ressentiam ao mais ligeiro toque. Vestir uma blusa ou uma camisola tornou-se um gesto negado.  Por o lenço na cabeça, uma verdadeira odisseia. Dormir? ... só de barriga para cima. Até o cotovelo se retraiu, impedindo o braço de se esticar. Ao fim de 3 semanas da operação, ainda longe de ver qualquer sinal de melhoria, por imposição do destino - O Rui, integrou a Força de Reacção Imediata, e partiu rumo à Guiné. Fiquei eu, com o meu embaraçado braço, o meu doce Afonso e uma recuperação ainda longe de ser um capitulo encerrado. Contei sempre com o apoio da família, dos amigos e até das vizinhas (que só as conheço à cerca de 3 anos) que tão genuinamente se ofereceram para me ajudar em tudo o que precisasse, com o menino, com as compras, com a casa... Foi muito bom saber que apesar de ser só eu e o Afonso aqui em casa, não estávamos sozinhos, de maneira nenhuma.   
Comecei a fisioterapia e também a conduzir, para abrir o vidro lá tinha que ir o braço direito, o esquerdo apesar de estar ali ao lado, não chegava ao botão, tal era o estado do desgraçado!
Ao fim de 5 cinco dias de fisioterapia e algum sofrimento suplementar, comecei a notar a diferença e a ganhar confiança. Hoje, tenho a certeza que o que me aconteceu ao braço, em parte foi falta de confiança e medo de força-lo. Depois mais uma semana, ... e outra. As dores atenuaram, o braço esticou e já mexe, já balança quando ando. Entretanto, o Rui regressou, após um mês da partida. Hoje, passados praticamente 2 meses da operação, faz precisamente dia 26 de Maio, sinto que o braço ainda não é o que era, o meu conforto também não, a minha qualidade de vida também não. Mas o que vivi nestes dois últimos meses, ensinou-me a ser ainda mais paciente, a viver um dia de cada vez mas sobretudo a superar os desafios, conquistando o que há partida se apelidava de impossível.

A caminho...



...de mais uma sessão de radioterapia, 17.ª de 25! No regresso conto novidades!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Foi assim que Aconteceu...


Trago noticias! A passo de caracol, mas trago noticias. Sem grandes dissertações quero apenas deixar aqui o registo de um dos mais marcantes dias da minha vida. Dia 26 de Março de 2012. Dia marcado para a incisão... Foi também um dia marcado pelos mais paradoxos  sentimentos. Cheguei ao hospital às 17h30 num quente e doce dia de Primavera.   Cerca de 4 horas mais tarde chegava o tão ansiado momento. O auxiliar estava ali, com um doce sorriso, para me levar. Mandou-me deitar e tapar e lá começou a empurrar a cama pelos corredores do hospital. É há partida uma sensação de impotência, ora porque raio não poderia ir eu pelo meu pé? ainda questionei o auxiliar. Ele sorriu e respondeu, precisamos de a trazer de volta, na cama! Não percebi, nesse caso empurrava eu própria a cama até à entrada do bloco.... Mas já não questionei. No pequeno percurso, ao  ver reflectida no tecto a minha imagem assim deitada, tapada com um lençol branco e a ser empurrada por um auxiliar de acção médica, comecei a tomar consciência da realidade da situação. A partir daquele momento a situação estava fora do meu controle, e foi a partir desse instante que todos os meus sentimentos convergiram para um só: medo. Medo na sua mais pura essência foi tudo o que senti à entrada do bloco. Partilhei com todos este potente sentimento, com as enfermeiras e até com o médico. Que para descontrair também me respondeu que se estivesse no meu lugar também estava cheio de medo, aliás que já tinha fugido! Ainda me ri! Depois deram-me uma qualquer droga para me acalmar. Entrei no bloco, empurrada claro... O cenário estava montado, aquele que costumamos ver nos filmes, estava ali bem presente, montado para mim. A médica anestesista, muito divertida, começou por dizer umas parvoeiras e eu claro a responder no mesmo tom. Lembro-me que lhe respondi que queria viajar até às Maldivas. Cerca de 2h30 da minha vida  em os médicos empunharam o bisturi, eu impotente abracei de corpo e alma a fé e esperança e acreditei mais uma vez num final feliz. Acordei e mandei calar toda a gente, estão a falar muito alto, o Afonso pode acordar! Ops... afinal estava na sala de operações, acabadinha de acordar de uma cirurgia! Estava bem disposta e nada preocupada com a mama que me tinha sido acabada de "cortar". Levaram-me para o recobro. Sentia-me bem e perfeitamente lúcida.  Pensei que me iam deixar lá um eternidade, mas não. Estive lá cerca de 30 minutos e depois lá me levaram para o meu quarto no quarto piso, do Hospital da Luz, com vista privilegiada, imaginem só, para o cemitério de Benfica, a mim não me incomodou minimamente, mas de facto ... há pessoas mais susceptíveis. O Rui estava lá à minha espera, tentou disfarçar o nervoso com um caloroso sorriso. Querido, já está. Ainda anestesiada, sentia-me óptima. Peguei no telefone e liguei para a minha mãe e para a mãe do Rui que estava em casa com o Afonso. Falei entusiasmada com elas. Devia ser cerca da 1h da manhã. O Rui ficou mais um pouco, queria ver-me adormecer. Mas o sono teimava em manter-se afastado e os meus olhos bem abertos. Estava desperta, tão desperta que devo ter dormido 2 ou 3 horas nessa noite. De manhã, ainda anestesiada, com certeza, levantei-me com ajuda da enfermeira Joana, tomei banho com supervisão da auxiliar. Sentia-me bem e andei levantada de um lado para o outro, o dia todo. Foi o primeiro dia pós mastectomia. Os dias que se seguiram foram mais negros, mas sobre isso por escrever um outro post.

... e foi mesmo assim que aconteceu!