quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Fora da escala

Não há voltas a dar. Estou efectivamente fora da escala. Vivo um dia de cada vez, não como se do último se tratasse, mas porque tenho que tornar eternos os pequeninos momentos dos meus grandes dias. Sinto já em mim uma necessidade premente de uma reflexão sobre o Ano Novo que agora iniciou o seu doce e longo caminho. E é à luz dessa reflexão que me sinto assim, fora da escala. 
Fora da realidade, fora da normalidade, fora da sociedade. Sem me deixar respirar as primeiras lufadas do doce ar do Novo Ano, a minha realidade afirma-se imediatamente. Os dois primeirinhos dias no Ano passados a penar. O corpo a implorar por um banal conforto, a cabeça prestes a rebentar e os afrontamentos a impedir-me de dar descanso à dor. A minha normalidade traduz-se no permanente cansaço, que necessita de descansar com frequência, para estar preparado para alguma mazela que resolva aparecer sem avisar, como foi o caso das minhas veias, que começaram a queixar-se, nuns gritos mudos ensurdecedores, das sucessivas picadas da quimioterapia. Para se juntar a esta normalidade também apareceu uma diarreia, vinda sabe-se lá de onde, salvo seja, sendo eu obstipada por natureza. 
Na sociedade declaro-me como doente oncológica, desempregada de baixa. Indesejada, na indesejada crise, não me é conferido o direito à procura activa de trabalho. Permaneço, enquanto os demais saem pela manhã, tornam efectivos os seus objectivos,  desenvolvem os seus projectos, cumprem as suas tarefas, partilham sentimentos e experiências. Eu limito-me a permanecer, simplesmente! Na avida tentativa de redescobrir o devido conforto que me foi retirado, assim sem mais nem menos.  Na busca veemente de uma nova aprendizagem que me permita viver os meus dias fora da escala com normalidade. Como o sábio Mestre, a altiva Vida tem me ensinado a ser genuinamente Feliz, sem motivo aparente para o ser. Ensinado a valorizar tudo o que tenho como inestimável. A tornar raros e genuínos todos os pequeninos e  banais momentos do meu dia. No meu universo ainda me resta o meu intimo. Onde posso mergulhar, sempre que quiser, insistir na busca. Do indicio, da resposta que me permite continuar a viver docemente fora da escala. 

6 comentários:

  1. Paula,
    às vezes é positivo fazer uma análise de vida.

    Toda a gente tem dias que os pensamentos são todos para dseconstruir, e então é um desfiar, estar fora da sociedade, a cabeça a estalar não poder respirar o ar... não poder ir à procura duma nova ocupação. Todas podemos fazer o mesmo exercício de desânimo... Tens toda a razão a tua vida é isso...

    E se tentares aceitar, e não fazer da tua vida esse martírio? É dura a tua vida, mas tens um filho, a esperança de cura, vives fora da escala como dizes... dizes que a vida te tem ensinado a viver intensamente os banais momentos da tua vida, então continua, estás no caminho certo!

    Continua... a acreditar que a tua escala, a que o Mestre guardou para ti chegará.

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  2. Querida Laura,

    É difícil ter consciência da realidade da Vida, mais difícil ainda é vivê-la. Mas tenho muita, muita esperança que daqui a uns tempos tudo isto não passará de uma recordação, menos boa, que me fortaleceu e muito me ensinou a viver. O meu Afonso é a coisa mais maravilhosa das nossas vidas, é ele, tão pequenino que todos os dias enche esta casa de Felicidade.

    Um grande beijinho e muito obrigada pela sincera mensagem.

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  3. Acho que não existem escalas que te possam defenir. Sempre foste um ser humano demasiado excepcional para ser defenido por uma banal escala. A tua escala é a maneira como de cabeça erguida enfrentas cada momento que a vida te proporciona. Acho que esta dura experiência te está realmente a ensinar que Viver é isso mesmo; um dia de cada vez e cada dia com alegria , paixão e entrega como se fosse o último porque nenhum de nós, saúdavel ou doente sabe como será amanhã. A Vida muda num segundo, daí que como tu dizes e mto bem, devemos sempre valorizar cada momento, um sorriso, uma flor, um gesto de amizade. Para mim não existem escalas pré-concebidas; somos nós que as contruímos dia a dia com aquilo que a vida nos dá; um dia dão-nos limões e fazemos limonada, no outro dão-nos uma flor e criamos um jardim... mas verdadeiramente único e fantástico é aquilo que tu consegues fazer minha amiga; a Vida deu-te limões azedos e tu sorriste e transformaste-o numa favo de mel dourado num brilho de sol poente...

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  4. Acho que não existem escalas que te possam defenir. Sempre foste um ser humano demasiado excepcional para ser defenido por uma banal escala. A tua escala é a maneira como de cabeça erguida enfrentas cada momento que a vida te proporciona. Acho que esta dura experiência te está realmente a ensinar que Viver é isso mesmo; um dia de cada vez e cada dia com alegria , paixão e entrega como se fosse o último porque nenhum de nós, saúdavel ou doente sabe como será amanhã. A Vida muda num segundo, daí que como tu dizes e mto bem, devemos sempre valorizar cada momento, um sorriso, uma flor, um gesto de amizade. Para mim não existem escalas pré-concebidas; somos nós que as contruímos dia a dia com aquilo que a vida nos dá; um dia dão-nos limões e fazemos limonada, no outro dão-nos uma flor e criamos um jardim... mas verdadeiramente único e fantástico é aquilo que tu consegues fazer minha amiga; a Vida deu-te limões azedos e tu sorriste e transformaste-o numa favo de mel dourado num brilho de sol poente...

    Beijinhos,
    Isabel Pires

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  5. Isabel,
    Minha querida Amiga, que já me deixas-te "desarmada", logo pela manhã!Hoje o meu dia vai sem dúvida, ser melhor! São amigas como tu que me dão a receita. Que me ensinam a transformar os limões em doces favos de mel.
    Adoro-te Amiga e obrigada por fazeres parte da minha Vida, há tantos anos, e para sempre...

    Beijinhos

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  6. Vim visitar o teu blog.... :( porque também a minha tia luta agora no mesmo lado da tua batalha :( foi operada na semana passada, na véspera do falecimento da minha avó (mãe dela) :(... e agora 15 dias de espera pelos malditos resultados que definiram os proximos passos...
    Beijinho grande para ti, muita força, já percebi que falta pouco, e acredito que sim!

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